quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Carta a um filho que emigrou

                                       

Os alunos portugueses, após completarem os seus estudos têm 3 saídas:
- Por mar - Por terra - Por ar
                                         


               
Não sei, meu filho, como te vai correr a vida, agora que foste à procura de emprego fora de Portugal. Nem a dos teus amigos que estão no Brasil, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, China, Angola, Moçambique. Sei somente que a tua geração se preparou, esforçou, estudou, trabalhou arduamente para ter um futuro diferente deste. Sei também que houve gerações antes de vossa que lutaram, sofreram, morreram para que este país fosse diferente e que não mais os seus cidadãos tivessem de emigrar para poderem ganhar a vida condignamente.

Sim, eu sei que a tua geração está muito mais bem preparada e é muito mais cosmopolita do que aquelas que emigraram nas décadas anteriores. O mundo para vocês não é algo desconhecido e que atemoriza. E sei que há muita gente que defende que esta emigração é excelente, porque vos coloca perante outras realidades profissionais, vos permite criar uma rede internacional de contactos e vos possibilita experiências que vos tornarão não só melhores especialistas nas vossas áreas como cidadãos do mundo.

Contudo, todos nós deveríamos ter o direito de viver no país onde nascemos. Emigrar por vontade e decisão é uma coisa, emigrar por necessidade e obrigação é outra muito diferente. Mas foi aqui que chegámos de novo: um país que não consegue criar empregos para os seus melhores ou que lhes oferece 700 euros por mês, que forma investigadores e cientistas em catadupa, mas que depois não lhes proporciona emprego nas empresas nacionais, que investe fortemente através dos seus impostos na formação altamente qualificada dos seus jovens e depois os deixa partir sem pestanejar para colocarem os seus conhecimentos ao serviço de outros países.

Sei ainda mais. Sei que vocês não deixam cá mulher (ou marido) e filhos. Vão constituir família nos países para onde foram obrigados a partir, ter filhos por aí, criar raízes noutras latitudes e com outras nacionalidades, o que tornará o regresso bastante mais difícil. Além disso, com a situação económica e etária que o país vive, este vai lenta e melancolicamente afundar-se com uma população de pobres, velhos e doentes, o que obviamente não atrai nem a energia nem a alegria dos jovens, nem o desejo de voltarem a viver por cá. Vocês voltarão algumas vezes pelas férias, mas a vossa vida será definitivamente nos países que vos acolheram e recompensam condignamente o vosso trabalho.

Vocês continuarão ligados a Portugal e vão até valorizar tudo o de bom que existe neste país, esquecendo a mediocridade, a inveja, a avidez, a corrupção, a luxúria, as desigualdades, a burocracia, a incompetência, o desrespeito por reformados, doentes e desempregados. Tentarão saber notícias pela net, ler livros em português, ver algum jogo de futebol nos computadores, enfim, sentirão vontade de estar mais ou menos a par do que por cá se vai passando. Mas pouco a pouco a distância, as exigências profissionais, os compromissos familiares vão sobrepor-se e vocês ir-se-ão distanciando do país e integrando cada vez mais noutras realidades, perante a indiferença da classe política e o incentivo do primeiro-ministro, que desconhece que um país que perde os seus melhores só pode ter um futuro sombrio à espera.

Parafraseando Jorge de Sena, que foi obrigado a exilar-se e sempre sentiu enorme raiva por isso, não sei que mundo será o teu, mas é possível, porque tudo é possível, que seja aquele que desejo para ti. Mas queria que fosses tu a escolhê-lo e não que te obrigassem a emigrar. E isso dói. A ti, a mim, à tua família, aos teus amigos. E devia doer, e muito, ao teu país. Por: Nicolau Santos/ As minhas Leituras





Outros:
 Ciclo de conferências sobre Emigração                                          Emigrantes Passam fome e frio em Londres             





Os dias de hoje não aguentam novas descolonizações
Importa que todos trabalhem para evitar o que seria uma enorme calamidade
Nunca foi fácil ser português. O posicionamento geográfico condicionou- -nos. Somos a cauda do Norte e o topo do Sul. Somos uma placa giratória que distribui filhos para muitos destinos.
E isso dá-nos força. Dá-nos exposição. Dá-nos características únicas, mas também traz problemas e situações que podem gerar dramas repentinos e anular o que pareciam soluções.
Simplificando: partem os melhores, os mais arrojados, os mais preparados ou necessitados. Sempre assim foi e sempre assim será. Mas hoje é preciso ter noção de que há um efeito boomerang potencialmente rápido em função da instabilidade que se verificar nos pontos de migração.
Se houver convulsões em certos destinos de emigração actual, Portugal não terá qualquer hipótese de albergar de volta os milhares de nacionais que têm saído do país, alguns dos quais munidos de habilitações como nunca ninguém teve por cá. São filhos de um sistema de educação único, que resultou de esforços públicos e privados que o Estado enquadrou e que lhes ofereceu um escape para a pobreza.
No entanto, é um facto que há hoje o risco de regressos em massa e Portugal no seu todo deve contribuir para minorar essa calamidade.
Mais do que para países tranquilos de Gaiolas Douradas, como a França, a Bélgica, a Suíça, a Alemanha, a Grã-Bretanha e os estados da Escandinávia, os portugueses de hoje partem sobretudo para sítios mais complicados e improváveis.
Angola é o mais apetecível e mais estável dentro de um quadro de mútuo conhecimento ancestral e linguístico, mas o problema que a justiça arranjou por incúria é uma ameaça. Moçambique enfrenta problemas graves que resultam exactamente do seu surto de de- senvolvimento e da criação de grandes desigualdades. A África do Sul é um barril de pólvora. A Guinéidem, mas temos lá poucos nacionais. Timor não é propriamente uma meia ilha de paz adquirida. A Líbia da reconstrução-relâmpago é o que se sabe. Os emirados estão bem e em desenvolvimento, mas têm especificidades complexas susceptíveis de rebentar. A Venezuela é um problema sempre latente. Destinos como a Colômbia e o Peru ameaçam gerar dificuldades. O Brasil é uma incógnita permanente, enquanto a China vive uma falsa calma. Por Eduardo Oliveira Silva publicado em 9 Nov 2013/I





'Perdemos 150 portugueses por dia'
Joaquim Azevedo, convidado pelo Governo para estudar medidas de apoio à natalidade, foi às jornadas parlamentares do PSD em Viseu sublinhar a urgência de superar o défice demográfico. "Seremos uma espécie em vias de extinção", avisou, deixando um apelo dramático. Se nada for feito, "o país não será sustentável".
"Perdemos hoje 150 portugueses por dia. Antes do fim do século seremos sete milhões", afirmou Joaquim Azevedo, frisando a ideia de que a situação está a tornar o país insustentável.

Para o académico, há porem uma falta de atenção ao tema da quebra demográfica. "Parece que não é questão", lamentou, defendendo que para inverter a tendência será preciso trabalhar durante 20 anos.

"Estamos numa espécie de alerta super vermelho", comentou, lembrando que 2014 pode ser o ano em que Portugal ficará abaixo dos 80 mil nascimentos por ano.

O professor nomeado por Passos para liderar um grupo de trabalho sobre a natalidade, apontou as medidas de apoio ao emprego como as mais importantes para resolver o problema da queda de nascimentos.

"As mulheres são fortemente penalizadas pelas empresas", atacou, lembrando que ainda são muitas as empresas que não só não promovem políticas amigas da família como prejudicam as trabalhadoras que querem ser mães.

A rede de creches para crianças entre os 0 e os 3 anos é outra das medidas indicadas por Joaquim Azevedo. "Temos de colocar as crianças primeiro", disse, identificando as autarquias como entidades que podem estar na primeira linha destas políticas de incentivo às famílias.

Para Joaquim Azevedo é ainda importante investir em políticas fiscais que apoiem as famílias mais numerosas.

"Há bastante a fazer. É preciso é fazer mesmo", frisou, argumentando que o problema não se resolve apenas com imigração ou com o retorno da emigração.
25 de Março, 2014por Margarida Davim
margarida.davim@sol.pt



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